quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vinho de nantra pipa

sábado, 15 de janeiro de 2011
Vinho de nantra pipa
Intertextualidade – Acartomante x Vinho de nantra pipa

Este texto foi baseado no Conto “A Cartomante” de Machado de Assis, mostrando um texto com outra versão, mais de humor do que propriamente trágica e contendo partes verídicas.




VINHO DE NANTRA PIPA


Disse seu Vitório: “ Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!”.
Como todo italiano que se preza, seu Vitório sabia apreciar um bom vinho e uma bela mulher. Ele como agricultor que plantava arroz e cultivava parreirais, na época de colheita, sempre contratava diaristas como mão-de-obra para o trabalho, dos quais haviam homens e mulheres.
Seu Vitório era homem fagueiro, festeiro, mulherengo e vivia se engraçando com as mulheres da lida, principalmente as mocinhas. Chamava-as de uva Rosê, uva Niágara... e assim nomeáva-as com nomes de qualidades de uva de acordo com o temperamento de cada uma.
- Que uva de mesa, disse ele ao ver uma moça, corpo bem feito, alta, cabelos longos e olhos azuis, que chegou um dia em sua propriedade para ajudar na colheita, junto com os outros diaristas.
Safira, mulher viúva, mãe de dois meninos: João e José, fez-se de sonsa e respondeu: - Há! O senhor cultiva uva de mesa! Gosto muito de colher uva, ainda mais as de mesa que rendem o trabalho, são mais graúdas. E assim, dia após dia, ele fazia insinuações e gracejos com Safira e as outras mocinhas, que só pensavam em trabalhar para ajudar no sustento de casa, ignorando-o. Mesmo assim ele continuava largando indiretas como: - Adoro minhas uvas! Ainda mais as maduras!, - Minha uva gostosa, doce, tu me tonteia como vinho de pipa da boa!
Safira, já indignada com a situação constrangedora pensa: - Vou dar um jeito de falar com dona Judite pra pegar esse safado!
No dia seguinte, amanheceu chovendo muito e Judite fala: - Vitório, tu que conhece mais as mulher da lida, busca uma pra me ajudá na cozinha, que hoje vou fazê geléia de uva, aproveitá que piove e non dá pra fazê o serviço lá fora.
- Dio nono, tudo io! Piove, piove, que nem os cane non sai no terrero!
- Vá, vá! Tu tá sempre correndo lavora debaxo do tempo, aproveita e pega melancia
pra gente comê de tarde.
Lá se foi seu Vitório estrada afora com a charrete, capa e guarda-chuva, parou no caminho e colheu algumas melancias, colocou num saco nolombo do cavalo e seguiu em direção a casa de Safira. Chegando lá, parou, olhou, estava tudo fechado, ia embora, mas resolveu descer e bater.
Safira abre a porta e ele pergunta: - Posso entrar?
- Não, responde Safira, meus filhos estão deitados, o que o senhor quer?
- Non te preocupa non, só vim te busca pra ajudá a Judite na cozinha, ela vai fazê geléia de uva e pediu pra te buscá, pago bem!
Tá bem, vô vê os menino e já venho.
Safira beija os filhos e diz: - Ficam com Deus, a mãe vai trabalha pra comprá pão e leite prá janta. José o menor diz: - Tô com medo mãe!
Não fica com medo filho preciso ir, reza pro anjo da guarda. Então, João diz: - Pode dexa mãe, vô cuidá do mano.
- A mãe só vem a tardinha e tem comida no fogão, cuida pra não se queimá.
Safira, sai e sobe na charrete, meio receosa.
Lá pelo meio do caminho, Vitório começa a puxar assunto e faz uma declaração: -Hô Safira, tô apaixonado por tê! Que tu acha de marca um encontro dia desse?
Safira muito nervosa e com medo, responde: -Vô pensá, depois falo pro senhor.
Enton pensa minha uva! Mas non pensa demais!
Chegando em casa , Vitório diz: - Tá qui Judite, essa é Safira, trabalhadora que só vendo!
- Si, si, eu conheço, gente boa ela!-
Safira e Judite puseram-se a despencar a uva que já estava lavada, e conversa vai, conversa vem, Judite queixa-se a Safira, que desconfia que o marido a trai, pois vive fazendo gracinha com as mulheres.
Safira, então, se encoraja e fala a Judite: - Pois é dona Judite, sô viúva, pobre, mãe de dois filho, ma sô direita e seu Vitório tá sempre me cercando. Hoje mesmo pediu pra marca encontro com ele e eu disse que ia pensá, porque fiquei com medo.
- Há! Esse sem vergonha me paga!
- Vamo fazê assim, tu diz que vai esperá ele no galpon hoje, depois que tu sai daqui, marca um lugar pra ele te dexá e vai embora, enquanto isso eu me arrumo no galpon e espero ele voltá.
- Mas ele não vai desconfiá? Diz Safira amedrontada.
Non, non, tem um atalho depois da curva que dá pro galpon, tu diz que vai pelo atalho e é pra ele dá uma volta e dexá a charrete na curva e ir depois pra non dá na vista, enquanto ele dá a volta, tu entra no mato, espera, depois corre pra casa.
- Muito obrigada dona Judite, já tava cansada, não sabia mais o que fazê!
Ao entardecer, Judite chama Vitório e diz: - Vitório, paga a Safira e leva ela pra casa que os menino eston sozinho. - Toma Safira, pon e leite, leva pros menino.
Safira agradece e sai com Vitório.
Quando saem, Vitório pergunta: - E daí, já pensô?
Claro, vamo se encontra no galpão.
Como! A Judite pode desconfiá!
Não, eu pego o atalho pro galpão lá depois da curva e quando o senhor chega, não acende a luz, te espero nos pelego e o senhor dá uma volta pra não dá na vista, depois dexa a charrete na curva e segue o atalho. Dizendo isso, Safira salta da charrete e corre para o mato. Enquanto Vitório dá a volta ela corre na direção de sua casa por outro atalho, onde ela encurtava caminho para o trabalho na lavoura.
Vitório sai mais faceiro do que maçarico do banhado, pensando: - É hoje que provo do vinho de nantra pipa nova!
- Enquanto isso, Judite vai para o galpão, se aconchega nos pelegos e espera murmurando: - Hoje eu pego este desavergonhado!
Vitório deu uma volta, retornou deixando a charrete na curva, pegou o atalho para o galpão e foi mais que depressa. Chegando lá, ele abre a porta e chama: - Minha uva de mesa roxa, onde tu tá?
-Aqui nos pelego, murmura Judite tentando disfarçar a voz para que Vitório não desconfiasse e recomenda: - Não acende a luz que tua mulher pode vê.
Vitório se aproxima dos pelego e começa o rala e rola. Quando acabam ela pergunta sussurrando: - E daí? Como foi?
Vitório fala todo gabola: - Há! Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!
Judite, mais que depressa, levanta, acende a luz, dá de mão num porrete que tinha deixado do lado e deita no lombo de Vitório esbravejando: -Enton tu vai vê vinho de nantra pipa agora seu desgraçado, sem vergonha, scorssone, bísquero...
Vitório acabou ficando de cama uma semana de tanto pau que Judite deu no lombo dele, ainda teve que ouvir todo dia um sermão cheio de chingação... -Tà doendo, seu mulherengo, desavergonhado! Marca encontro de novo que eu baxo a lenha seu bisquero, maledeto squifoso...
Vitório ficou com tanta vergonha porque toda vizinhança ficou sabendo da surra que ele levou e parece que mudou de comportamento, pois não se ouviu mais falar do fanfarrão.
Disse seu Vitório: “ Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!”.
Como todo italiano que se preza, seu Vitório sabia apreciar um bom vinho e uma bela mulher. Ele como agricultor que plantava arroz e cultivava parreirais, na época de colheita, sempre contratava diaristas como mão-de-obra para o trabalho, dos quais haviam homens e mulheres.
Seu Vitório era homem fagueiro, festeiro, mulherengo e vivia se engraçando com as mulheres da lida, principalmente as mocinhas. Chamava-as de uva Rosê, uva Niágara... e assim nomeáva-as com nomes de qualidades de uva de acordo com o temperamento de cada uma.
- Que uva de mesa, disse ele ao ver uma moça, corpo bem feito, alta, cabelos longos e olhos azuis, que chegou um dia em sua propriedade para ajudar na colheita, junto com os outros diaristas.
Safira, mulher viúva, mãe de dois meninos: João e José, fez-se de sonsa e respondeu: - Há! O senhor cultiva uva de mesa! Gosto muito de colher uva, ainda mais as de mesa que rendem o trabalho, são mais graúdas. E assim, dia após dia, ele fazia insinuações e gracejos com Safira e as outras mocinhas, que só pensavam em trabalhar para ajudar no sustento de casa, ignorando-o. Mesmo assim ele continuava largando indiretas como: - Adoro minhas uvas! Ainda mais as maduras!, - Minha uva gostosa, doce, tu me tonteia como vinho de pipa da boa!
Safira, já indignada com a situação constrangedora pensa: - Vou dar um jeito de falar com dona Judite pra pegar esse safado!
No dia seguinte, amanheceu chovendo muito e Judite fala: - Vitório, tu que conhece mais as mulher da lida, busca uma pra me ajudá na cozinha, que hoje vou fazê geléia de uva, aproveitá que piove e non dá pra fazê o serviço lá fora.
- Dio nono, tudo io! Piove, piove, que nem os cane non sai no terrero!
- Vá, vá! Tu tá sempre correndo lavora debaxo do tempo, aproveita e pega melancia
pra gente comê de tarde.
Lá se foi seu Vitório estrada afora com a charrete, capa e guarda-chuva, parou no caminho e colheu algumas melancias, colocou num saco nolombo do cavalo e seguiu em direção a casa de Safira. Chegando lá, parou, olhou, estava tudo fechado, ia embora, mas resolveu descer e bater.
Safira abre a porta e ele pergunta: - Posso entrar?
- Não, responde Safira, meus filhos estão deitados, o que o senhor quer?
- Non te preocupa non, só vim te busca pra ajudá a Judite na cozinha, ela vai fazê geléia de uva e pediu pra te buscá, pago bem!
Tá bem, vô vê os menino e já venho.
Safira beija os filhos e diz: - Ficam com Deus, a mãe vai trabalha pra comprá pão e leite prá janta. José o menor diz: - Tô com medo mãe!
Não fica com medo filho preciso ir, reza pro anjo da guarda. Então, João diz: - Pode dexa mãe, vô cuidá do mano.
- A mãe só vem a tardinha e tem comida no fogão, cuida pra não se queimá.
Safira, sai e sobe na charrete, meio receosa.
Lá pelo meio do caminho, Vitório começa a puxar assunto e faz uma declaração: -Hô Safira, tô apaixonado por tê! Que tu acha de marca um encontro dia desse?
Safira muito nervosa e com medo, responde: -Vô pensá, depois falo pro senhor.
Enton pensa minha uva! Mas non pensa demais!
Chegando em casa , Vitório diz: - Tá qui Judite, essa é Safira, trabalhadora que só vendo!
- Si, si, eu conheço, gente boa ela!-
Safira e Judite puseram-se a despencar a uva que já estava lavada, e conversa vai, conversa vem, Judite queixa-se a Safira, que desconfia que o marido a trai, pois vive fazendo gracinha com as mulheres.
Safira, então, se encoraja e fala a Judite: - Pois é dona Judite, sô viúva, pobre, mãe de dois filho, ma sô direita e seu Vitório tá sempre me cercando. Hoje mesmo pediu pra marca encontro com ele e eu disse que ia pensá, porque fiquei com medo.
- Há! Esse sem vergonha me paga!
- Vamo fazê assim, tu diz que vai esperá ele no galpon hoje, depois que tu sai daqui, marca um lugar pra ele te dexá e vai embora, enquanto isso eu me arrumo no galpon e espero ele voltá.
- Mas ele não vai desconfiá? Diz Safira amedrontada.
Non, non, tem um atalho depois da curva que dá pro galpon, tu diz que vai pelo atalho e é pra ele dá uma volta e dexá a charrete na curva e ir depois pra non dá na vista, enquanto ele dá a volta, tu entra no mato, espera, depois corre pra casa.
- Muito obrigada dona Judite, já tava cansada, não sabia mais o que fazê!
Ao entardecer, Judite chama Vitório e diz: - Vitório, paga a Safira e leva ela pra casa que os menino eston sozinho. - Toma Safira, pon e leite, leva pros menino.
Safira agradece e sai com Vitório.
Quando saem, Vitório pergunta: - E daí, já pensô?
Claro, vamo se encontra no galpão.
Como! A Judite pode desconfiá!
Não, eu pego o atalho pro galpão lá depois da curva e quando o senhor chega, não acende a luz, te espero nos pelego e o senhor dá uma volta pra não dá na vista, depois dexa a charrete na curva e segue o atalho. Dizendo isso, Safira salta da charrete e corre para o mato. Enquanto Vitório dá a volta ela corre na direção de sua casa por outro atalho, onde ela encurtava caminho para o trabalho na lavoura.
Vitório sai mais faceiro do que maçarico do banhado, pensando: - É hoje que provo do vinho de nantra pipa nova!
- Enquanto isso, Judite vai para o galpão, se aconchega nos pelegos e espera murmurando: - Hoje eu pego este desavergonhado!
Vitório deu uma volta, retornou deixando a charrete na curva, pegou o atalho para o galpão e foi mais que depressa. Chegando lá, ele abre a porta e chama: - Minha uva de mesa roxa, onde tu tá?
-Aqui nos pelego, murmura Judite tentando disfarçar a voz para que Vitório não desconfiasse e recomenda: - Não acende a luz que tua mulher pode vê.
Vitório se aproxima dos pelego e começa o rala e rola. Quando acabam ela pergunta sussurrando: - E daí? Como foi?
Vitório fala todo gabola: - Há! Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!
Judite, mais que depressa, levanta, acende a luz, dá de mão num porrete que tinha deixado do lado e deita no lombo de Vitório esbravejando: -Enton tu vai vê vinho de nantra pipa agora seu desgraçado, sem vergonha, scorssone, bísquero...
Vitório acabou ficando de cama uma semana de tanto pau que Judite deu no lombo dele, ainda teve que ouvir todo dia um sermão cheio de chingação... -Tà doendo, seu mulherengo, desavergonhado! Marca encontro de novo que eu baxo a lenha seu bisquero, maledeto squifoso...
Vitório ficou com tanta vergonha porque toda vizinhança ficou sabendo da surra que ele levou e parece que mudou de comportamento, pois não se ouviu mais falar do fanfarrão.

Disse seu Vitório: “ Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!”.
Como todo italiano que se preza, seu Vitório sabia apreciar um bom vinho e uma bela mulher. Ele como agricultor que plantava arroz e cultivava parreirais, na época de colheita, sempre contratava diaristas como mão-de-obra para o trabalho, dos quais haviam homens e mulheres.
Seu Vitório era homem fagueiro, festeiro, mulherengo e vivia se engraçando com as mulheres da lida, principalmente as mocinhas. Chamava-as de uva Rosê, uva Niágara... e assim nomeáva-as com nomes de qualidades de uva de acordo com o temperamento de cada uma.
- Que uva de mesa, disse ele ao ver uma moça, corpo bem feito, alta, cabelos longos e olhos azuis, que chegou um dia em sua propriedade para ajudar na colheita, junto com os outros diaristas.
Safira, mulher viúva, mãe de dois meninos: João e José, fez-se de sonsa e respondeu: - Há! O senhor cultiva uva de mesa! Gosto muito de colher uva, ainda mais as de mesa que rendem o trabalho, são mais graúdas. E assim, dia após dia, ele fazia insinuações e gracejos com Safira e as outras mocinhas, que só pensavam em trabalhar para ajudar no sustento de casa, ignorando-o. Mesmo assim ele continuava largando indiretas como: - Adoro minhas uvas! Ainda mais as maduras!, - Minha uva gostosa, doce, tu me tonteia como vinho de pipa da boa!
Safira, já indignada com a situação constrangedora pensa: - Vou dar um jeito de falar com dona Judite pra pegar esse safado!
No dia seguinte, amanheceu chovendo muito e Judite fala: - Vitório, tu que conhece mais as mulher da lida, busca uma pra me ajudá na cozinha, que hoje vou fazê geléia de uva, aproveitá que piove e non dá pra fazê o serviço lá fora.
- Dio nono, tudo io! Piove, piove, que nem os cane non sai no terrero!
- Vá, vá! Tu tá sempre correndo lavora debaxo do tempo, aproveita e pega melancia
pra gente comê de tarde.
Lá se foi seu Vitório estrada afora com a charrete, capa e guarda-chuva, parou no caminho e colheu algumas melancias, colocou num saco nolombo do cavalo e seguiu em direção a casa de Safira. Chegando lá, parou, olhou, estava tudo fechado, ia embora, mas resolveu descer e bater.
Safira abre a porta e ele pergunta: - Posso entrar?
- Não, responde Safira, meus filhos estão deitados, o que o senhor quer?
- Non te preocupa non, só vim te busca pra ajudá a Judite na cozinha, ela vai fazê geléia de uva e pediu pra te buscá, pago bem!
Tá bem, vô vê os menino e já venho.
Safira beija os filhos e diz: - Ficam com Deus, a mãe vai trabalha pra comprá pão e leite prá janta. José o menor diz: - Tô com medo mãe!
Não fica com medo filho preciso ir, reza pro anjo da guarda. Então, João diz: - Pode dexa mãe, vô cuidá do mano.
- A mãe só vem a tardinha e tem comida no fogão, cuida pra não se queimá.
Safira, sai e sobe na charrete, meio receosa.
Lá pelo meio do caminho, Vitório começa a puxar assunto e faz uma declaração: -Hô Safira, tô apaixonado por tê! Que tu acha de marca um encontro dia desse?
Safira muito nervosa e com medo, responde: -Vô pensá, depois falo pro senhor.
Enton pensa minha uva! Mas non pensa demais!
Chegando em casa , Vitório diz: - Tá qui Judite, essa é Safira, trabalhadora que só vendo!
- Si, si, eu conheço, gente boa ela!-
Safira e Judite puseram-se a despencar a uva que já estava lavada, e conversa vai, conversa vem, Judite queixa-se a Safira, que desconfia que o marido a trai, pois vive fazendo gracinha com as mulheres.
Safira, então, se encoraja e fala a Judite: - Pois é dona Judite, sô viúva, pobre, mãe de dois filho, ma sô direita e seu Vitório tá sempre me cercando. Hoje mesmo pediu pra marca encontro com ele e eu disse que ia pensá, porque fiquei com medo.
- Há! Esse sem vergonha me paga!
- Vamo fazê assim, tu diz que vai esperá ele no galpon hoje, depois que tu sai daqui, marca um lugar pra ele te dexá e vai embora, enquanto isso eu me arrumo no galpon e espero ele voltá.
- Mas ele não vai desconfiá? Diz Safira amedrontada.
Non, non, tem um atalho depois da curva que dá pro galpon, tu diz que vai pelo atalho e é pra ele dá uma volta e dexá a charrete na curva e ir depois pra non dá na vista, enquanto ele dá a volta, tu entra no mato, espera, depois corre pra casa.
- Muito obrigada dona Judite, já tava cansada, não sabia mais o que fazê!
Ao entardecer, Judite chama Vitório e diz: - Vitório, paga a Safira e leva ela pra casa que os menino eston sozinho. - Toma Safira, pon e leite, leva pros menino.
Safira agradece e sai com Vitório.
Quando saem, Vitório pergunta: - E daí, já pensô?
Claro, vamo se encontra no galpão.
Como! A Judite pode desconfiá!
Não, eu pego o atalho pro galpão lá depois da curva e quando o senhor chega, não acende a luz, te espero nos pelego e o senhor dá uma volta pra não dá na vista, depois dexa a charrete na curva e segue o atalho. Dizendo isso, Safira salta da charrete e corre para o mato. Enquanto Vitório dá a volta ela corre na direção de sua casa por outro atalho, onde ela encurtava caminho para o trabalho na lavoura.
Vitório sai mais faceiro do que maçarico do banhado, pensando: - É hoje que provo do vinho de nantra pipa nova!
- Enquanto isso, Judite vai para o galpão, se aconchega nos pelegos e espera murmurando: - Hoje eu pego este desavergonhado!
Vitório deu uma volta, retornou deixando a charrete na curva, pegou o atalho para o galpão e foi mais que depressa. Chegando lá, ele abre a porta e chama: - Minha uva de mesa roxa, onde tu tá?
-Aqui nos pelego, murmura Judite tentando disfarçar a voz para que Vitório não desconfiasse e recomenda: - Não acende a luz que tua mulher pode vê.
Vitório se aproxima dos pelego e começa o rala e rola. Quando acabam ela pergunta sussurrando: - E daí? Como foi?
Vitório fala todo gabola: - Há! Vinho de nantra pipa é sempre vinho de nantra pipa!
Judite, mais que depressa, levanta, acende a luz, dá de mão num porrete que tinha deixado do lado e deita no lombo de Vitório esbravejando: -Enton tu vai vê vinho de nantra pipa agora seu desgraçado, sem vergonha, scorssone, bísquero...
Vitório acabou ficando de cama uma semana de tanto pau que Judite deu no lombo dele, ainda teve que ouvir todo dia um sermão cheio de chingação... -Tà doendo, seu mulherengo, desavergonhado! Marca encontro de novo que eu baxo a lenha seu bisquero, maledeto squifoso...
Vitório ficou com tanta vergonha porque toda vizinhança ficou sabendo da surra que ele levou e parece que mudou de comportamento, pois não se ouviu mais falar do fanfarrão.

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