quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Consumismo





Alienação e abundância
Abundância gera descaso. Somos apegados ao que é escasso. Tudo que é raro, é caro. Em meio à escassez damos mais valor às coisas e vivemos com mais consciência. Por isso muitas vezes concluo que a pior coisa que pode acontecer a algumas pessoas é nascerem em meio à abundância. Terão sim, muitas facilidades, mas facilidade demais nos impede de conhecermos todas as nossas forças e aptidões. É na exigência da dificuldade que se revelam nossas mais profundas forças.
Penso que antigamente, a vida era tão dura e difícil, que as pessoas não tinham tempo para esse tipo de atitude. A uma maioria só restava lutar pela vida e pela sobrevivência. Passagens de frivolidade e superficialidade no passado são mais comumente associadas às cortes e às realezas, já que a riqueza e a fartura lhes permitiam tais leviandades. Atualmente as camadas mais pobres da sociedade continuam mais atentas aos itens essencias da vida: trabalho, alimentação, vestuário, moradia, etc. Ser bem sucedido para esse grupo significa não deixar faltar nada do essencial.
Mas a classe média, abastada, mais se atém às aparências e ao status do que em desenvolver-se integralmente. Cresceram em poder aquisitivo, mas permanecem com a mesma essência de antes, tão preocupada com os bens materiais, e sem muito tempo – nem tampouco interesse – para dedicar-se a atividades mais nobres, como política, estudos, artes, etc. Pensar é atividade que demanda esforço, mas a classe média que trabalha 12, 13, 15 horas por dia para manter seu padrão de vida condicionado artificialmente, chega em casa tão cansada que nem cogita ler um livro ou se manter informado sobre a política do país. Acham que assistir ao Jornal Nacional basta. Suas mentes estão tão cansadas que lhes é conveniente e agradável sentar em frente à TV para assistir, anestesiados e “descansando”, preenchendo a mente com mais influências acondicionadoras. Quem sabe agora o comercial que passará entre os intervalos da novela das 8 dirá: “Está na hora de você trocar seu celular”! E assim o círculo vicioso mantem o impulso.
É um povo imenso que vive meio perdido, à deriva nesse mar de informações, sem qualquer balizamento sólido, tanto moral, quanto espiritual. Imagino que isso aconteça porque não somos orientados para saber o que fazer com nosso tempo livre. As atividades mais saudáveis e intensas costumam ser vistas como bobagens sem importância. Nossa opinião geral está tão impregnada com a idéia de que a única atividade válida é o trabalho, que nos sentimos um tanto culpados quando estamos num momento de prazer, ou desfrutando de atividades de lazer, ou cuidando da própria saúde, ou estudando através de momentos de leitura, etc. Sentimos que estamos “perdendo tempo”.
E por não saber o que fazer com o nosso tempo livre, e também por preocupação com as opiniões alheias, vamos vivendo e se alienando dos valores realmente importantes e essenciais da vida e da sociedade. Nos submetemos ao padrão consumista meio que por osmose, inconscientes do que fazemos e achando tudo absolutamente normal. Não perguntamos por que temos que consumir tanto, por que tenho que realmente de trocar minha televisão, por que devo consumir este e aquele produto e a mais importante das questões não feitas: Aonde esse tipo de atitude automática, adquirida por influência dos outros e da mídia, vai me levar, e aonde vai levar o futuro da sociedade e do planeta.
Marketing, propaganda, publicidade…
A publicidade e o marketing, aliados a alienação geral das pessoas, são considerados os maiores vilões atuais, estimuladores do consumo exagerado e da consequente devastação do meio ambiente, que ocorre de várias formas na medida em que mais matéria-prima é extraída dos meios naturais e na medida em que mais e mais lixo é gerado diariamente pelos consumidores, entre outras demandas agressoras ao equilíbrio ambiental.
Ambos promovem um desvirtuamento geral dos valores das pessoas. Não só criam necessidades sem as quais vivíamos muito bem e muito melhor integrados ao ambiente (e há quem negue), como abusam de nossa natureza para nos motivar ao consumo. Sentimentos como Ansiedade, Preocupação, Inveja, Alienação, Compulsão, Vaidade, Desejo, Modismo, Sugestionabilidade, Insegurança (Para dizer que tem, Para ser igual, Para ser diferente), Necessidades emocionais, enfim, são facilmente manipulados através de imagens e sons para nos fazer crêr que precisamos desse e daquele produto.
Escrevi um texto tempos atrás sobre como a publicidade trata as pessoas como idiotas (clique e leia) para torná-las mais idiotas ainda. Dizem que os governantes não fazem questão de melhorar a grade de ensino nas escolas, porque eleitores mais inteligentes e informados são mais difíceis de manobrar. Tenha certeza, para a publicidade, quanto mais idiota e desprovido de pensamento crítico o consumidor for, mais fácil será manobrá-lo a comprar os produtos anunciados.
Consumo consciente
Como filho da década de 80, peguei o finalzinho de um tempo em que os produtos nos eram caros. Um brinquedo era O BRINQUEDO, com o qual passavamos horas e horas, e tendíamos a cuidar zelosamente, e com ele sonhávamos e vivíamos. Da mesma forma os adultos tinham em seus objetos verdadeiros entes que os acompanhavam por todo o seu – à época, longo ciclo de duração – até que impossibilitados de funcionar devidamente, os descartávamos ou ainda tentávamos um último conserto, etc. Isso não existe mais. As crianças de hoje tem brinquedos à revelia, não se apegam a nada. Alternam seus jogos de vídeo-game como quem troca de roupa. Diferentemente da minha época, em que alugávamos as “fitas” de vídeo-game e as expremíamos o fim de semana inteiro até cansar de jogar.
Produtos personalizados, raros, com vida própria, muito nossos estão voltando à moda. Por um lado é bom que as pessoas, por poucas que sejam, estejam se tornando capazes de desejar algo mais “humano” e menos padronizado. Porém o fato de ser uma “moda” demonstra que pode ser algo passageiro, e o que mais distancia as pessoas desse modo de consumo consciente é o elitismo que o rodeia, devido aos custos comparavelmente mais altos de tais produtos.
Associo a situação atual mundo x consumismo sob aquele ditado que diz que a ocasião faz o ladrão. É assim que somos como sociedade e sempre fomos. Só que antigamente não havia essa fartura de produtos e a necessidade de escoá-los. Tudo isso é fruto da natureza humana, inconsciente e destrutiva.
Por isso creio que a única solução possível é, ainda e sempre, a tão falada EDUCAÇÃO. Somente disseminando a boa informação é que chegaremos a uma nova sociedade, agora com cidadãos conscientemente críticos. Ou seja, quando decidirmos pela atitude certa PORQUE É a atitude certa a se tomar, e não porque obteremos alguma vantagem ao tomá-la.

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